Atenção: esse texto foi originalmente publicado em 26 de novembro de 2021 no blog do Movimento Choice.
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Relações de trabalho em ambientes complexos
Se seu novo escritório passa a ser a sua própria casa (ou algum coworking), existe uma necessidade de garantir seus direitos enquanto trabalhador. Caso contrário, torna-se apenas uma ótima oportunidade de corte de gastos por parte da empresa.
Recentemente, comecei a desenvolver algumas atividades de marketing e comunicação junto à Verakis, uma instituição francesa que trabalha com a mediação e disseminação de informação acerca das ciências dos alimentos e alimentação, principalmente entre o Brasil e países europeus. Participam ativamente da Verakis pessoas da França e de Portugal, além de outras regiões do Brasil. Mesmo antes do que aconteceu em meados de 2020, tudo já ocorria dessa maneira: em rede, com base em parcerias e sem sede física.
Lá pra março, sabemos muito bem o porquê, muito do que conhecíamos como “modelo de trabalho tradicional” se desfez. Em muitos locais, o esquema “5 por 8” deu lugar ao modelo remoto. Grandes corporações possuem estrutura (inclusive financeira) para realizar rapidamente essa transformação. Entretanto, não se pode dizer a mesma coisa dos pequenos negócios.
DAVI
“Reinvenção” foi o termo utilizado para se adequar à nova realidade exposta. A Rede Globo até lançou o projeto VAE — Vamos Ativar o Empreendedorismo. Negócios de impacto como o Instituto RESocial surgiram com o objetivo de minimizar os efeitos de uma parada brusca na economia.
Mas, no fim do dia, a pequena empresa acaba tendo pouco ou nenhum acesso à empréstimos com juros facilitados para se manter em tempos de exceção, tendo como consequência direta seu fechamento. A realidade bateu à porta, e quase 1 milhão de pessoas perderam o emprego por causa do acontecimento do ano. A solução encontrada, pelo menos no curto prazo, foi ir para um lugar onde todos estão acessíveis — o ambiente digital.
GOLIAS
A XP Inc, uma das maiores corretoras brasileiras independentes, já criou vagas permanentes para home-office. A PepsiCo, multinacional da área de alimentos e bebidas, oficializou a sua “nova política de flexibilização do trabalho”. Iniciativas interessantíssimas do ponto de vista da liberdade do colaborador, mas é importante — e necessário — pensar sobre quais serão as novas condições de trabalho para essas pessoas. Haverá algum tipo de subsídio para a utilização da internet? Cadeira ergonômica? Descanso pros pés? Apoio pro computador? Algum auxílio para alimentação?
Se seu novo escritório passa a ser a sua própria casa (ou algum coworking), existe uma necessidade de garantir seus direitos enquanto trabalhador. Caso contrário, torna-se apenas uma ótima oportunidade de corte de gastos por parte da empresa.
E AGORA, JOSÉ?
Mas será que todo tipo de negócio possui essa capacidade de adaptação? Estamos fadados ao home-office, trabalho remoto e afins?
Setores voltados à tecnologia e comunicação, tais como publicidade, marketing e comércio online conseguiram se adaptar rapidamente. O mesmo ocorreu com cargos voltados à tomada de decisão, mas a grande massa, o “chão-de-fábrica”, não teve a mesma oportunidade.
O ano de 2020 é atípico, não dá pra negar. Não à toa, a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz afirma, em seu livro “Quando Acaba o Século XX”, que este é o ano em que finalmente começamos a encarar de frente os desafios cada vez mais complexos da nossa sociedade. A maneira com que encaramos nosso trabalho é apenas um deles.
Não acredito que precisamos pensar em apenas um modelo de trabalho. Em um mundo tão preto-no-branco, existe mais de 50 tons de cinza (risos). Para além de uma questão étnica, diversidade sempre será bem vinda. Que a gente não se prenda aos modelos do passado na hora de construirmos os futuros que queremos.