Atenção: esse texto foi originalmente publicado em 16 de setembro de 2020 no blog do Movimento Choice.
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Pra onde vamos?
Reflexões para um futuro melhor
Notícias sobre a destruição no meio ambiente brasileiro não param de aparecer na mídia. É o Pantanal perdendo mais de 16% de seu território para as queimadas, ou a Amazônia com níveis de desmatamento cada vez mais altos. São tempos difíceis para os sonhadores.
Mas por que a preservação da nossa fauna, flora e cultura deveria ser um sonho? Será que já não temos mais nenhuma esperança de futuro melhor? Ser “brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” ficou para os momentos de Copa do Mundo?
O sistema é bruto e pesado. Certa vez ouvi que “a iniciativa privada é como uma lancha: com uma capacidade populacional reduzida, é fácil de modificar a rota. A iniciativa pública, por sua vez, é como o Titanic, onde sua população é enorme, e qualquer mudança de rota na embarcação é complexa”. Nos últimos anos, percebo que estamos sentindo essa mudança. Após mais de uma década de progressismo (duvidável? Sim! Mas ainda progressismo!), estamos sendo conduzidos a um conservadorismo… estranho. Minha esperança é não batermos no iceberg.
Sem o apoio e ação da esfera pública, qualquer mudança na sociedade tende a ser apenas paliativa. Apenas políticas públicas estruturantes, que privilegiem a população em detrimento ao mercado, serão capazes de fazer com que a desigualdade econômica e social comece a diminuir. Para exemplificar, um caso bem emblemático: a Farinata.
O projeto planejado pelo Governo de São Paulo em 2017 buscava utilizar um composto granulado à base de alimentos industrializados perto da data de vencimento para a alimentação escolar e pessoas em vulnerabilidade social. O projeto acabou não indo para frente (ainda bem!), depois da pressão de diversos setores da sociedade. Enquanto isso, a CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) tem um desperdício de 150 mil quilos de alimentos POR DIA. Qual dessas questões deveria ser a prioridade da esfera pública?
Outro exemplo, mais urgente: o preço do arroz. Para além dos memes (já percebeu a criatividade do povo brasileiro?), a alta do preço de um dos alimentos mais consumidos pelo brasileiro assusta. Não apenas pelo valor, mas também por ser uma questão de abrangência nacional.
A questão aqui é que existe um dispositivo de regulação de mercado, os estoques públicos de grãos, que asseguram a venda dos mesmos à preço justo (se, por algum motivo, houver algum problema com a produção de arroz, os estoques são utilizados e cumprem o papel de contenção de preços). Nos últimos anos, esse estoque foi praticamente zerado e não-incentivado, colocando em risco não apenas o preço médio do grão, mas também, em última instância, a segurança alimentar e nutricional da população.
Veio a pandemia e, com ela, toda uma necessidade de repensar o sistema. Na economia de livre-mercado que estamos vivendo, a alta do arroz é apenas o começo. Os estoques públicos de milho também encontram-se em estado crítico.
É claro que a discussão sobre o preço do arroz é mais complexa que isso, mas ela serve de exemplo para demonstrar o poder de impacto da iniciativa pública.
O governo tem sim muitos problemas a serem resolvidos. O Estado ainda é lento e cheio de falhas, mas é a maneira mais segura de promover uma mudança real na sociedade.
As Organizações Não Governamentais (ONGs) surgiram com o função de chegar aonde a esfera pública não chega, e fazem isso com maestria. Mais recentemente, os Negócios de Impacto Social (NIS) surgiram como um modelo híbrido, que alia a questão financeira do setor privado com o impacto causado pelas ONG’s. Mudar o mundo sim, mas ganhando dinheiro com isso.
São milhares de projetos heroicos, que resolvem problemas reais. Quando (e se) tudo dá certo, vira política pública. E isso dá um certo conforto, no sentido de saber que sim, é possível promover a mudança e até mesmo pautar uma carreira no impacto positivo na sociedade.
Mas essa não é a única opção. A gente pode fazer mais, um ato por vez. É comprar aquele caderno ou agenda que seu amigo faz. É saber de onde vem o que você coloca no seu prato. É entender que, independente de gênero, você tem responsabilidade sobre discursos de ódio. É pensar que as frutas nativas podem ser um motivo de orgulho nacional, e ao consumi-las, você fortalece o trabalho do pequeno produtor. É apostar na pesquisa de excelência realizada por instituições públicas. A cada momento, temos o poder de alterar a cadeia de consumo e, assim, pressionar não apenas o governo, como também a iniciativa privada, a criar uma economia que faça mais sentido para as pessoas.
Não sabe como começar? Novembro está aí, e temos a chance de eleger nossos representantes mais próximos, os vereadores. Parece pouca coisa, mas é a partir daí que começamos a pensar no modelo de sociedade que queremos.